Arquivo / 'Personagens'

João Ubando Ribeiro

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João Ubado Ribeiro em uma das salas da biblioteca pública de Itaparica que utilizou para produzir artigos para jornais e revistas. Tambem fez a tradução para o inglês do livro Viva o Povo Brasileiro e escreveu o livro O Sorriso do Lagardo. Antes de ir para casa parava para um “odete” , wisque Olde Eight, com os amigos no bar da esquina da praça da cidade.

Brasileiro

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Paulo Egydio Martins

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Coluna Social

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O garçom acaba de servir uma “grigliata mista di mare” para Fernanda Valdivia que esta ao lado de Carlos Dória e Ciro Girard no Restaurante Marina di Vietri, onde só vai italiano com a nossa cara, para não dizer com a nossa idade, que tem um guardanapo enfiado no pescoço e são profissionais de comer, nada mais, como bem disse o nosso professore Dória. E é mesmo, existe uma compenetração, um prazer respirável no ambiente simples e honesto, a cara das cantinas italianas familiares, de frequentadores assíduos. Ali, ninguém esta preocupado em pegar o chefe no contra-pé porque os pratos são os da vida, os de sempre, eternos clássicos.

123bbb1“grigliata mista di mare”

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Odílio Licetti

qqqq11 Odílio em seu escritório na Editora Abril em Nova Iorque que ficava na Madison Avenue, ao lado da Grand Central Station.

Jânio Quadros

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O jornalista Augusto Nunes esta contando no blog da Veja – http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/- a história da entrevista que fez com Jânio Quadros logo depois que o ex-presidente desembarcou de um navio cargueiro com dona Eloá de uma viagem de dois meses a europa. Eu acompanhava o Augusto para fotografar para a matéria de capa da revista Veja. Precisava de uma foto do presidente com a famosa cadela quinta-feira e, claro, ele com o copo de wisque na mão. Não teve jeito. O homem era um malabarista. O copo sempre chegava na mesa cheio, vindo da cozinha, abastecido por dona Eloá ou pelo empregado da casa e, pior, antes do gole ele dava uma pausa me olhava e pedia: “Sr. fotógrafo, não me fotografe com o copo na mão por favor”. Além disso ele sempre colocava o copo dele ao lado de uma lata de Coca-cola. “Os jornalistas beberam, eu não”.

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A história da onça do Claudio

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A rotina do acampamento da expedição de contato dos índios Panara comandada por Claudio e Orlando Villas Boas era sempre a mesma. Como as casas eram dentro do mato o limite para tomar banho com luz do dia era quatro horas da tarde e o jantar servido as cinco. Todo mundo comia de frente para o rio em silêncio, assistindo o último clarão do céu morrer no espelho d’água do rio Peixoto de Azevedo. As seis todos já estavam em suas redes e o falatório na diversas línguas ia até as sete. Na casa do Claudio uma lamparina à querosene ficava acesa até altas horas. Era para lá que eu ia todas as noites depois do jantar. Claudio gostava de relembrar os restaurantes que costumava frequentar. Quase sempre faziamos uma viagem imaginária, a pé, que começava nos altos da Avenida Paulista e terminava na frente de uma prato de capeletti a romanesca no Gigetto, o restaurante preferido do Claudio.

Luigi Mamprim era o fotógrafo da revista Realidade, dormiamos na mesma casinha mas ele dormia cedo. Eu ficava sentado em um banquinho na frente da rede do Claudio ouvindo tudo, sermão contra os militares, estratégias do contato e histórias de mato, do desbravamento do Brasil Central de cair o queixo. Eu adorava ouvir o Claudio.

Onça é um bicho que não sai da cabeça de quem anda no mato um segundo e alimenta o imaginário de gente que não sabe que, o que mata no mato é o medo. Caboclo do mato só pensa nisso e lenda é o que não falta. Nós, lá no Peixoto tinhamos visto muitos rastos nos barreiros e eu mesmo quando voltei para o acampamento depois de uma tarde de chuva encontrei umas pisadas do tamanho da minha mão aberta ao lado da minha rede. Foi um baque. Na noite anterior eu e o Claudio tinhamos visto a silhueta maravilhosa, contra a luz de uma lua cheia, de uma onça enorme atravessando a pauleira da derrubada do campo de pouso. Resolvi mudar minha rede para perto do trempi da cozinha que ficava com fogo a noite toda. Naquela noite a conversa foi sobre onças e Claudio me contou esta história sobre uma onça que andou ao lado dele o dia todo.

Claudio e os irmãos estavam fazendo a picada do Brasil Central e os trabalhadores que Claudio chefiava resolveram fazer um levante e não seguir mais viagem com ele. Claudio deixou os trabalhadores e voltou a pé para montar uma nova expedição. No segundo dia de caminhada, logo pela manhã, uma onça pintada começou acompanhar os passos do Claudio a 15 metros dele, paralela a picada. Claudio tinha na cinta um Schimth Weston calibre 38, cromado, cabo de madre pérola, uma jóia. Logo que ela apareceu, ele chegou a levar a mão na coronha. Andou um bom pedaço com o antebraço apoiado na cartucheira, foi afrouxando e cada vez mais prestava a atencão na beleza do bicho. Ele me descreveu a luz que entrava pelas frestas da capoeira e faziam o pêlo da onça pintada brilhar. Claudio descrevia o passo cadenciado, a beleza das mãos e me disse que os olhos dela faiscavam quando os olhos deles se cruzavam. A região era plana, uma mata de transição, um cerradão meio limpo por baixo onde ele podia ter um bom controle do bicho. Uma bela hora resolveu dar uma parada para acender um cigarro. A onça parou e sentou. Trocaram mais olhares e a onça lambia os bigodes com uma língua enorme, tranquila. Claudio resolveu brincar, deus mais uns dez passos e parou de novo. Ela levantou com muita calma andou mais um pouco e sentou novamente, continuou olhando para o Claudio, lambendo os bigodes. Claudio achou divertido a brincadeira com o bicho e retomaram a caminhada, ela sempre ao lado dele. “De vez em quando ela sumia e eu ficava preocupado, encostava em uma árvore grande e esperava um pouco, voltava a caminhar e logo ela aparecia sempre paralela a picada, pertinho de mim”.

Um pouco antes de escurecer Claudio montou um girau e armou sua rede em dois paus finos a dois metros do chão. Não sentiu medo. Adormeceu e sonhou com a beleza dos movimentos da pele brilhante da onça pintada, sua companheira de caminhada.

Adoniran Barbosa

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Paisagem morta

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As estradas de São Paulo são  um “tapete” como diz um amigo que se sente em uma “free-way” de Los Angeles quando viaja pelo interior. Realmente é um conforto mas, do ponto de vista de imagem o cenário ficou monótono, sem vida, insosso. Não se vê uma alma. A chegada da cana mudou a paisagem mas trouxe gente de todos os cantos do país, os bóias-frias que podiam ser vistos nos acostamentos, circulando nas carrocerias de caminhões, no meio do campo com a cara preta de fuligem das queimadas, com suas roupas coloridas, sobreposições geniais que nunca foram entendidas pelos nossos fashionistas. Em 1975 fiz um ensaio fotográfico sobre os bóias-fria da região de Itapira. Convivi semanas com as famílias que esperavam o caminhão para ir cortar cana embaixo de um poste com a única lâmpada da rua. Não consegui expor o contorno daqueles rostos angelicais por falta de luz mas ficava olhando aquelas expressões e ouvindo as conversas. Com o tempo fui entendendo que para mim fotografia não é só uma imagem estampada em um folha de papel. Fotografia é também convivência e admiração, respeito com a gente do campo, com a paisagem, com meus princípios em relação ao meio ambiente, com o caráter da chapa. Isso mesmo, nas minhas contas foto tem caráter. Tem uma hora que não se vê mais distinção, então pra que apertar o obturador? Estas são fotos que fiz a 35 anos atrás, quando ainda não éramos uma Los Angeles mas, o interior tinha histórias e fotos de encher o quadro de emoção.Com a chegada das máquinas estas figuras humanas únicas, distintas, sumiram do mapa e a paisagem do interior foi virando uma natureza morta interminável  sem os bóias-fria.

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Serra do Mar: palmito juçara e cambuci

 

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Uma picanha e uma frigideira velha, preta de tanto uso no fogão a lenha feito de quatro blocos alinhados com uma trempi apoiada em cima de um par de paus de mato. Alex Atala esta a 70 quilometrosdo DOM, o 18º melhor restaurante do mundo. Ali não tem Pacojet, assistentes e ele esta despido de seu tradicional avental branco de chef. Ele acabou de sair de umapicada da Mata Atlântica, a nossa serra do mar deslumbrante, o matão para os íntimos. A conversa com os amigos é sobre o mato e os macucos.

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Enquanto conversa Alex pega a picanha e faz cortes transversais como se pode ver na foto. De um golpe só coloca os pedaços agrupados na frigideira, em pé, com a gordura para baixo e deixa fritar lentamente para derreter a gordura, depois tomba os pedaços e deixa entrar no ponto. Tudo isto é feito naturalmente quase sem tocar na carne, uma arrumação espontânea de um “food stylist” nato.

No fim da tarde juntamente com o amigo Fernão Mesquita descemos a serra e paramos no primeiro boteco do pé da serra para tomar uma pinga com cambuci.O teto do barzinho ficava a um palmo da cabeça do Fernão. Em cima do balcão um vidro enorme destes de 5 litrosde palmito juçara era vendido por R$ 25 reais. A mulher nos serviu um copo americano cheio de pinga com cambuci e outro de pinga com orvalha e abriu um vidro de palmito pequeno e colocou em uma travessinha destas “made in china”. Temperou com sal, espremeu limão cravo e regou um fio de óleo Maria.

Avançamos no palmito alternando goles de pinga enquanto resmungavamos inconformados com a pouca valorização dada as nossas relíquias gastronômicas.

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“E tem gente que gasta fortunas para ir a Alba comer e nunca provou um palmito juçara”, reclamou Alex enquanto pedia que a mulher abrisse mais um vidro de palmito. Eu queria levar um vidrão para casa.Era barato demais e eu ia me esbaldar, matar todas as vontades. Fernão e Alex acharam melhor não. Aquilo era um estímulo a predação mesmo com a mulher sinalizando varias vezes que precisava de 50 reais naquele dia. Abrimos outro vidro e comemos mais palmito, alvo, macio, único e bebemos mais, desanimados com a falta de perpectivas para aquele mato que poderia ser muito mais bem cuidado e aproveitado por todos nós. Uma pena, no fundo o que nós queriamos naquela hora, se pudéssemos, era pegar os brasileiros um por um pelo braço e mostrar o caminho daquela beleza de serra, depois servir o legítimo palmito juçara e uma pinga com cambuci. Queriamos compartilhar com todos aquele gosto que, nas nossas contas, infelizmente, esta com os dias contados.