Paisagem morta

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As estradas de São Paulo são  um “tapete” como diz um amigo que se sente em uma “free-way” de Los Angeles quando viaja pelo interior. Realmente é um conforto mas, do ponto de vista de imagem o cenário ficou monótono, sem vida, insosso. Não se vê uma alma. A chegada da cana mudou a paisagem mas trouxe gente de todos os cantos do país, os bóias-frias que podiam ser vistos nos acostamentos, circulando nas carrocerias de caminhões, no meio do campo com a cara preta de fuligem das queimadas, com suas roupas coloridas, sobreposições geniais que nunca foram entendidas pelos nossos fashionistas. Em 1975 fiz um ensaio fotográfico sobre os bóias-fria da região de Itapira. Convivi semanas com as famílias que esperavam o caminhão para ir cortar cana embaixo de um poste com a única lâmpada da rua. Não consegui expor o contorno daqueles rostos angelicais por falta de luz mas ficava olhando aquelas expressões e ouvindo as conversas. Com o tempo fui entendendo que para mim fotografia não é só uma imagem estampada em um folha de papel. Fotografia é também convivência e admiração, respeito com a gente do campo, com a paisagem, com meus princípios em relação ao meio ambiente, com o caráter da chapa. Isso mesmo, nas minhas contas foto tem caráter. Tem uma hora que não se vê mais distinção, então pra que apertar o obturador? Estas são fotos que fiz a 35 anos atrás, quando ainda não éramos uma Los Angeles mas, o interior tinha histórias e fotos de encher o quadro de emoção.Com a chegada das máquinas estas figuras humanas únicas, distintas, sumiram do mapa e a paisagem do interior foi virando uma natureza morta interminável  sem os bóias-fria.

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2 Comentários

Roberto Cocco   em 28 julho, 2010

Pedrão,
Maravilhosas as suas fotos sobre os boias-frias.
Você diz que suas fotos tem carater. Quero afirmar que, desde que comecei acompanhar seu trabalho lá na Revista Veja, sempre digo que as suas fotos “falam”, as pessoas clicadas ficam com expressão. É por tudo isso que acompanho o seu trabalho há muito tempo e lhe admiro muito.
Parabens e continue nos presenteando com suas fotos e comentários no blog.
Grande abraço,

Fábio Mendes   em 28 julho, 2010

Fantásticas as imagens Pedro.

Meus pais foram bóias-frias por muito tempo aqui em Piracicaba. Mais precisamente no bairro de Santa Rosa. Ver essas imagens imagino meus pais e a difícil labuta. Eles tem orgulho de terem sidos cortadores de cana. Isso foi na década 60. Estão cheios de saúde ainda.
Sou leitor assíduo do seu blog. Suas imagens são muito sinceras.

Inté.

Fábio.

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