Arquivo / 'Personagens'

Esta matriz a história garante, não?

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O sertanista Claudio Villas Boas preparando um molho com carne de caça para o almoço do natal de 1971 na margens do rio Peixoto de Azevedo. Como chefe da expedição Claudio controlava o rancho mais fino que chegava de avião. Guardava em sua casa temperos, pacotes de macarrão e latas de goiabada. Nas ocasiões especiais liberava aqueles pacotes de espaguete compridos embrulhados em papel e duas latinhas de massa de tomate. A dose de óleo para refogar era colocada por ele na hora que o cozinheiro ia fazer o refogamento, isto quando tinha cebola ou alho, senão ele colocava um pouco por cima da água do cozimento ou então entregava para o cozinheiro meia latinha de Skol de óleo, que esta na bancada ao lado dele, como medida do óleo que deveria ser gasto por dia para fazer almoço e jantar para os trinta integrantes da expedição,

Este filme TRI-X esta manchado pela ação da umidade porque ficou comigo dentro da mato seis meses. Uma coisa que não se conhece hoje é como funcionaria as câmeras digitais, cartões expostos e computadores por um longo período baixo uma humidade de quase 100%. Esta matriz, o negativo, tem quase 40 anos e assim vai seguir, a história garante, não?

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Revirando o arquivo

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Ãndio Juruna

Aurélio Cinque, salumaio

aaa1 “Refoga na manteiga alho e cebola, batata e pancetta em cubos. Junta água e cozinha. Quando começa engrossar coloca macarrão Ave Maria ou spaguetti quebrado e deixa amornar. Depois uma bela mão de formaggio no prato…”.

Esta é uma receita de Pasta e Batata, feita com a pancetta artesanal produzida pelo salumaio napoletano Aurélio Cinque desde que desembarcou em São Paulo em 1952. Enquanto ele desembrulha um pedaço de pão recheado, úmido, delicioso, feito por ele mesmo e recheado com a linguiça toscana de seu frigorifico ele dita mais dois clássicos de sua terra natal. Como é bom ouvir estas letras: Pasta e Fagioli e Pasta e Ceci (grão de bico).

Só justificativas…

aaa5Me lembro do Dr. Socrátes dando entrevista depois dos treinos na Espanha com um cigarro acesso entre os dedos. Fumava na frente das câmeras e tomava cerveja sem se esconder. “O seu Telê não pediu para eu parar de fumar ele pediu para diminuir durante a Copa”, lembrava a combinação feita com o técnico toda a vez que era questionado por algum jornalista. Tele Santana falava pouco mas dava liberdade para os jogadores. Esta turma do Dunga e, ele inclusive, deviam ver o vídeo tape do jogo do Sarriá contra a Itália em Barcelona mil vezes para ver o que é ter sangue frio e cabeça no lugar para jogar 90 minutos contra o diabo. Como esquecer a cabeçada do Oscar no último segundo de jogo? Eu estava com o olho no visor, dedo embaixo e coração na arquibancada. Teoricamente enquanto o espelho da câmera trabalha não se vê nada mas, eu vi a mão do diabo Dino Soff chegar encostado na trave e tirar a bola que fez uma cidade inteira chorar. Os espanhois choravam na rua com a derrota do Brasil. Encontrei meu amigo e companheiro de cobertura Kadão emocionado ao lado do ônibus que partia com o time, nos abraçamos em silêncio. Não tem jeito, fotógrafo tambem perde jogo, perde a Copa , chora, principalmente quando o time sai do Brasil com os brasileiros e aquela seleção tinha o país inteiro na bagagem, tanto que é uma das inesquecíveis de todas as Copas. Nesta, de 2010, parece que o time saiu sozinho do Brasil, parece que eles não quiseram levar junto a nação, preferiram se fechar no grupo, não teve ôlho no ôlho. Voltaram em grupo na calada da noite, sem falar, nem olhar para ninguém, insossos.

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A festa dos cablocos

bbb22José Serra em campanha na arquibancada vermelha do boi Garantido na primeira apresentação da noite.

ccc16Tem aparecido cada bicho neste folclore amazônico…

aaa110Mercado Municipal de Parintins na hora do jogo do Brasil

“A foto que eu gostaria de ter feito”

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Este post foi escrito  especialmente para a sessão “A foto que eu gostaria de ter feito”  do blog www.olhave.com.br a pedido do amigo Alexandre Belém e esta sendo publicado simultaneamente hoje.

Uma das fotos que eu gostaria de ter feito e não fiz foi neste lugar. Claudio Villas Boas era o chefe da expedição de contato dos índios gigantes, os Kranhacãcores e estava em cima dos paus da derrubada das árvores do local onde seria construído o primeiro campo de pouso nas margens do Rio Peixoto de Azevedo, na divisa dos Estados do Mato Grosso e Pará, em 1970. Naquele dia Claudio parou em diversos pontos para conferir o alinhamento da pista com a bússola e eu acompanhava fotografando. Esta é uma das fotos que eu fiz naquela manhã. Com uma Nikon F e uma 85mm 1.1: 8 eu fazia o enquadramento quando, de repente, o Claudio sumiu do meu visor. Sai desesperado pulando por cima dos paus e galhadas para acudi-lo e, quando me aproximei vi a seguinte cena: Claudio no chão, tombado de lado com seu Schmith Weston cromado apontado para a cabeça de uma cobra surucucu enorme que estava a dois palmos de distância do cano do revólver. A cobra estava empinada, brava, a um metro do chão, mais alta que o braço do Claudio. Fiquei paralisado, em silêncio acho que alguns segundos, me lembro de ter ouvido a minha própria respiração e em seguida o tiro espatifando a cabeça da cobra. Que chapa maravilhosa eu fiz. Ela esta feita mas só eu vejo. Esta que é feita com máquinas eu não fiz, gostaria de ter feito para poder mostrar para voces a cena de um homem muito corajoso, de mãos enormes e alma pura que entregou a sua vida para os índios. A noite ele me contou o que pensou quando viu a surucucu na altura do seu tornozelo. “Quando eu vi ela subindo por baixo da bússola pensei, vou morrer. Então, resolvi pegar ela de surpresa e pular de lado com os dois pés bem juntinhos para ela não ter tempo de me pegar”. Eu deixei de fazer  muitas outras fotos boas graças aos meus anjos da guarda Albina, os irmãos Claudio e Orlando Villas Boas e Erno Schneider que me ajudaram a tirar o filme com a foto do primeiro contato do fundo do rio Peixoto de Azevedo. Não fosse eles  minha trajetória  provavelmente seria outra e eu não estaria aqui agora contando esta história.

Estes anjos da guarda

bbbb22Na época da cheia,  quem mora em casas flutuantes na amazônia tem contato mínimo com a terra firme. Até para chegar no canteiro próximo, para buscar um  punhado de cheiro verde, é preciso ir de canoa. Às crianças , só resta o tablado de madeira que contorna a casa para brincar. Estas  meninas irmãs moram no Paraná do Supiá, um braço do Rio Solimões, região de várzea onde se planta juta e malva.

Terezinha Dick, chef

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Quem for a Porto Alegre não pode perder o linguado com batata braseada na chapa da chef Terezinha Dick do restaurante Orquestra de Panelas do fotógrafo Adolfo Gerchmann.

“Tira uma linha”

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Com esta foto dos meus amigos italianos da Emilia-Romagna, Bruno Taioli de Cesena e Fabio Morganti de Bologna fazendo tortellini começo uma nova sessão no blog chamada “tira uma linha”. Era uma expressão que se usava para valorizar o que era chic e eu ouvia muito quando era menino, principalmente dos padres italianos que apareciam na minha casa depois da missa de domingo para falar de caça com meu pai e tomar vinho.

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Ricardo Cassolari, cabeleireiro

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