Arquivo / abril, 2011

Bravíssima Dona Onça

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A cozinheira Janaína, a Dona Onça do bar homônimo que fica em baixo do Copan, onde São Paulo mora, é a rainha da panela de pressão. Ontem, ela interrompeu o almoço com o marido e voltou meia hora depois com uma caçarola daquelas que, quem viu e experimentou não vai esquecer mais. Era uma sopa, um tipo de minestra de músculo de boi, legumes e fetuccine feito em casa, fresco. O prato ainda não tem nome, mas ela promete servir neste inverno em travessas com alças, de preferência de bronze. Agora, para quem não tiver paciência de esperar o inverno, junte três ou quatro amigos bons de comida generosa destas que, quem faz fica com esta carinha de felicidade que a Janaína tem na foto, ao lado de sua panela e peça para ela fazer uma “Minestra da Dona Onça”, e pronto, chore. Eu acho que vai dar certo.

A útima luz do dia

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São Raimundo Nonato-PI

Idéias de Comandatuba

aa1Embalagens de cachaça de 300ml de plástico fotografadas assentadas no mangue, embaixo do pontão do restaurante Mangal das Garças em Belém. Educação ou amido de milho?

Os donos dos principais supermercados de São Paulo e o governo do estado reunidos em Comandatuba na semana passada chegaram a uma brilhante idéia. Fazer uma sacola biodegradável de plástico verde feita de amido de milho que se desintegra na natureza em dois meses para substituir as de plástico. Esqueceram de levar em conta que para isto precisa se plantar mais milho, uma comodite que não gera um emprego a mais porque a lavoura e colheita é totalmente mecanizada, como a soja e a cana. Exige toneladas de agrotóxico pulverizado de avião. Além do mais não levaram em conta a pressão sobre a nossa pobre terra que já teve papel mais digno no passado, e das chuvas que estão carreando cada vez mais químicos para os córregos contaminando o nossos já ultra-podre rios, entre outros tantos problemas ambientais.

bb22Em um braço do Igarapé do Educandos em Manaus, a correnteza faz um redemoinho e vai depositando o lixo que vem descendo pela margem esquerda do Rio Negro no meio das palafitas na época da cheia. Educação ou amido de milho?

Os empresários, que vão cobrar R$ 0,19 por sacola, e o governo de São Paulo acham mais fácil produzir uma sacola tendo como matéria prima o milho do que fazer escolas e colocar professores para educar o povo a depositar as atuais sacolinhas de plástico no lugar certo depois de utilizadas. Mesmo que a tal sacola de amido dure uma semana, nas minhas contas,  não é o amido de milho que vai evitar que a sacola vá para o lixo, a menos que sejam comidas pelas crianças como disse na Folha de sábado João Galassi da Associação Paulista de Supermercados, as sacolas continuarão entupindo os bueiros da capital e inundando a cidade com enchentes históricas, ou não?

E na Amazônia então, todas as embalagens plásticas que sobem os rios na direção da fronteira voltam, descendo rio abaixo, boiando, uma quantidade impressionante de todo tipo de PET e plásticos que cobrem a superfície de igarapés, lagos e vem enroscando na vegetação das margens dos rios, passando por Manaus onde a carga foi embarcada e seguindo em direção ao mar.

c22Lixão nas proximidades do Parque Nacional da Serra da Capivara. O vento carrega os sacos plásticos por dezenas de quilometros ao longo da estrada que corta a caatinga virgem. Educação ou amido de milho?

O auê produzido por esta idéia vai ganhar espaço e mídia, alguém vai publicar uma foto de uma criança dando uma mordida em uma sacola de amído de milho, modelos e atores vão desfilar com elas, podem esperar. Agora, se fizer uma conta, na ponta do lápis, o custo ambiental é prejuizo na certa. É altissimo. Mas esta é uma conta chata, adoramos falar da importância da água, mas quando vemos a superfície de uma igarapé amazônico, ou das cabeceiras dos nossos rios Tietê e Pinheiros, que estão aqui dentro de São Paulo, qualhado de lixo plástico e espuma tóxica despejada pelas indústrias ficamos indiferentes. Mas, esta sacola é uma bela idéia de negócio, não é?

Moradia dos brasileiros

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Revirando o arquivo

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Esta fotografia foi feita em 1973 nas proximidades do hotel onde o Flamengo se hospedava em Curitiba  para jogar contra o Atltético Paranaense pelo Campeonato Brasileiro.

Qualquer coisa

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R$ 33,60 por 800 gramas de arroz, feijão, 1 pastelzinho, duas fatias de tomates, três de abobrinha, duas costelinhas, uma linguiça e uma colher de farofa. Refeição feita no balcão de uma padaria no bairro de Pinheiros em São Paulo. O prato não tem R$ 5,00 de custo. Esta todo mundo dormente?

Catadores de formiga

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Catação de formigas é o serviço que os índios brasileiros prestaram ao chefe Alex Atala do restaurante Dom para ficar em 7º lugar na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo – eleição feita anualmente pela revista britânica Restaurant, conforme matéria publicada no blog Paladar do Estadão, ontem.

“I Love You Panda”

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A história desta foto é no Xingu e por muito pouco eu não fotografei esta onça viva atravessando a nado um igarapé de 10 metros de largura sombreado por árvores enormes que isolava um pedaço de terra e formava uma ilha onde os Kaiapó construiram quatro cabanas para receber turistas. Conheci as cabanas e tomei um café feito em fogão a lenha ao ar livre feito por uma índia, companheira de um rapaz branco, caboclo da região, que seria o guia e encarregado da hospedagem dos turistas dentro do Parque Nacional do Xingu. A idéia dos índios era fazer com que os turistas convivessem com eles um par de dias, fossem para o mato observar os bichos, pescar. Era uma boa idéia. Imagina poder fazer uma campana a noite em uma onça pintada. Vê-la ao vivo. Isso sim é o que a gente precisa ver. Fazer uma foto eterna, não destas que a gente pendura na parede, igual aquelas de zoológico. Foto sem câmera, que o brilho do olho do bicho e o movimento do pêlo não sai mais da lembrança.

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Continuei descendo o rio e três dias depois, voltando, parei no acampamento para tomar um café e encontrei o couro desta onça no varal. Segundo o encarregado do acampamento, logo que meu barco partiu ele atirou na onça que estava atravessando o igarapé na direção de sua mulher que cozinhava no fogão a lenha. No varal vi que o couro tinha sido tirado com esmero, estacas de madeira foram colocadas nas região das mãos do animal para deixar o couro esticado, coisa de gente que não dorme no ponto. Pobre bicho, pobre turistas, pobre Xingu. Daqui a pouco só vamos nos lembrar dos Pandas.

Coisas da roça

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Xingu, 50 anos

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A cozinha no último acampamento da expedição de contato com os Kranhacãrore era na beira do Peixoto de Azevedo e os índios, todos Xinguanos, comiam nos finais de tarde sentados no alto do barranco assistindo o por do sol que desaparecia mais ou menos no rumo do Xingu. Os pilotos que voavam na região estimavam em 400 quilometros a distância entre o Xingu e o Peixoto, trecho que era percorrido pelos Kaiapó para guerrear com os Kranhacãcore e vice-versa. Foi em uma destas batalhas que uma criança Kranhacãrore foi sequestrada e criada pelos Kaiapó com o nome de Mengrire e ficou com 2,04 metros de altura.

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Hoje os Kranhacãrore não são mais os temidos gigantes. São os Panara, não moram mais no Xingu e, as distâncias de mato entre onde moram hoje,  no Nacypotiri, nas cabeceiras do Iriri e o Xingu não são mais as mesmas. As madeireiras e as estradas avançam cada vez mais. O Xingu é uma ilha verde cercada de pasto e soja que vista de cima é um deserto sem fim.

Em agosto de 2000 estive no Quarup dos Kuicuru convidado pelo meu amigo de expedição, o lider Kuikuro Jacalo. Fotografei varias cenas que mostravam o que eu considerava profundas alterações nos costumes. Publiquei fotos e artigo no jornal Folha de São Paulo e os índios ficaram bravos comigo. Fazer o que? Duas chapas são estas que publico aqui.

Ontem, lembrei do assunto porque a Folha publicou o artigo “Xingu sob pressão” do jornalista Rodrigo Vargas que dá um panorama do clima no Parque no aniversário de 50 anos.

Fiquei imaginando, os 75% da população de jovens cada vez mais distantes dos costumes tradicionais dos velhos. O Parque vive um baita conflito de gerações faz tempo, a moçada não quer mais saber de mato. Não é para estranhar se daqui algum tempo tiver índio criando gado e plantando soja dentro do Parque. Boi eu sei que já tem, soja é só uma questão de tempo.