Arquivo / abril, 2011
Patagônia, pesca com mosca, férias (4)
Descer alguns rios flotando é um misto de programa de pesca e turÃsmo. A balsa atravessa rápidos e passa por canyons que dificilmente se tem acesso por estradas. O céu azul e o sol, que nesta época do ano não fica mais a pino,  começa a andar em volta e ajuda nas chapas-cartões postais.
O guia controla a balsa para que os pescadores, um na proa e outro na popa, arremesem nas margens. Em muitos lugares é possÃvel parar a balsa nas ilhas do meio do rio e pescar nos lugares onde normalmente não se chega vadeando.
Nosso guia e grande pescador Carlos Trisciuzzi cuidou da logÃstica. Enquanto as balsas desceram pescando, com parada para almoço, ele desceu o rio com uma balsa grande e ajudantes para montar o acampamento onde passamos a noite.
Na chegada ao acampamento um bom assado já estava sendo preparado.Carlito preparando os ovos mexidos do café da manhã
Patagônia, pesca com mosca, férias (3)
Estes são os pescadores desta temporada. Todos posaram  paramentados, prontos para seguir para o seu tramo de rio, menos o nosso “General”  Gugu, comandante geral, que esta sem seu colete de pesca porque na última hora achou que deveria cortar o vento frio com um agasalho de nylon. A foto do João com a menor truta da temporada na mão foi feita pelo guia Carlos Trisciuzzi durante uma flotada.
Este é o garçom Santiago que nos atende no restaurante Huca Huaney  de Junin de Los Andes onde jantamos todas as noites  desde as primeiras temporadas nos anos 80.  Santiago tem vários cursos de “catador” e hoje é um especialista nos vinhos produzidos na região.
Restaurante Huca, ponto de encontro de pescadores e caçadores. Nas paredes fotos de antigos pescadores e caçadores posando com cabeças de ciervo e de javalis. Os lustres do restaurante são montados com chifres de ciervo.
Patagônia, pesca com mosca, férias (2)
Não é difÃcil ver nas águas transparentes dos rios da região de Junin de Los Andes trutas se movimentando nos chamados “canais comedores”. São correntes onde há  maior quantidade de alimentos e tambem são os lugares mais complicados para pesca-las porque se assustam com o simples toque da linha na água.
Gustavo e Salvador fazendo uma seleção de moscas
Esta é uma seleção das principais moscas/ninfas indicadas para os rios da Patagônia: Hare’s Ear, Prince, Phesant Tail, Black Stonefly e Zug Bug. As secas mais conhecidas são as seguintes: Adams, Elk Hair Caddis, Yellow Stimulator, Royal Wulff, Irresistible e Blue Dun.
No colete de pesca a variedade de moscas utilizadas no dia.
Gustavo no rio Chimehurin, arremessando com mosca seca rio acima
Quarto na antiga Hosteria Chimehuin, uma hospedaria muito simples mas é a mais antiga e tradicional, foi frequentada na década de 60 e 70 por grandes pescadores de Fly como o argentino Baby Anchorena, uma lenda que tem fotos com trutas enormes com mais de 10 quilos na Sala do Café da Manhã, antigo “Comedor”, na época que a Hosteria servia jantares com pratos de truta. Nos dias de hoje são raros os rios onde se pode matar uma truta. A maioria dos rios é “Captura e Devolucion” com anzol sem rebarba (sem fisga). Comer uma truta só em restaurante, de criadeiro.
Patagônia, pesca com mosca, férias (1)
Quando algum fotógrafo pensava em sair de férias no jornal O Globo o chefe Theopompo da parte da manhã respondia, “férias pra que?, voces vivem de férias, isto aqui é a melhor agência de viagens do mundo”. Eu concordava, achava uma chatice ficar um mês fora do jornal. Em 1985 aprendi a pescar com Fly, ou mosca como se diz em português, com meu amigo Gustavo dos Reis Filho, o Gugu, e fiz a primeira viagem para a Patagônia na região de Junin de Los Andes, onde estão concentrados a maioria dos rios e lagos da região. Descobri meu paraÃso de silêncio. Ao lado do mestre Gugu fiz um “roll casting”, o movimento básico que um iniciante aprende para colocar a linha na água e poder começar a pescar, no rio Quilquihue e no segundo arremesso peguei uma belÃssima truta arco-iris com uma mosca Zug Bug, uma ninfa. Bom, aqui vai uma pequena explicação sobre este tipo de pesca que é pouco conhecido por nós. O equipamento é basicamente vara e linha. A carretilha só serve para enrolar a linha, não tem tração, é tudo muito simples, trata-se de uma modalidade de pesca muito antiga mas, para aprender é preciso de professor, sózinho é quase impossÃvel aprender os fundamentos. A isca é artificial, pode ser atada pelo próprio pescador com materiais diversos, penas e pêlos de animais e deve reproduzir todas as fases do nascimento de um inseto, desde quando se desprende das pedras no fundo do rio (ninfas), até quando chega na superfÃcie para voar (secas). Tem tambem as moscas que imitam os insetos terrestes como as abelhas e formigas e as môscas que imitam pequenos peixes.
Quando tive esta primeira truta nas minhas mãos, na flôr d’água, movimentando-a para frente e para trás lentamente para oxigena-la para a soltura, lembro de ter dito para o Gugu meu companheiro de todos estes ano que aquele seria o lugar que eu gostaria de ir todos os anos de minha vida. E assim tem sido todos estes anos, sempre passando por Buenos Aires, revendo amigos, afinando as compras em um ótimo Fly Shop e conferindo os clássicos culinários da cidade. Algumas vezes dou um pulinho extra no começo da temporada em dezembro e depois a viagem obrigatória no final de temporada que termina no dia 15 de Abril. Depois a pesca fica proibida para que as trutas que saem dos lagos para desovar não sejam molestadas. Assim começou meu aprendizado para sair de férias e, lá em Junin, como chamamos intimamente como se fosse nosso talvez seja o único lugar que eu conheça onde eu passo o dia ouvindo o sopro do vento, o som das águas rápidas dos pools, a truta pequena que bate na superfÃcie para tomar minha mosca sêca ou então um estrondo assustador de um ciervo pulando dentro do rio para atravessa-lo.
Virei a casaca. Não sou mais corinthiano.
Passei quinze dias na Patagônia, como tenho feito nos últimos 26 anos, isolado em Junin de Los Andes, uma cidadezinha a 250 quilometros ao norte de Bariloche. Lá, o programa é vadear rios maravilhosos de águas cristalinas que nascem nas montanhas nevadas para pescar trutas nativas com môsca. Assistir a natureza em silêncio, caminhar por campos onde não se vê uma alma, só os gorduchos hereford pastando e os ciervos que nesta época do ano bramam para acasalar.
Este ano havia uma novidade na Hosteria Chimehuin onde fico hospedado. Colocaram Wi-Fi e eu podia ver meus e-mails e as notÃcias do dia através do IPhone. A vida mudou porque eu não precisei ir até Locutório no centrinho da cidade. Foi assim que li a notÃcia que o jogador Adriano tinha sido contratado pelo Corinthians. Pronto. Me deu um nó na garganta que esta enroscado até agora. Já fui corinthiano roxo, depois fui desanimando com o futebol e hoje, nas minhas contas, futebol é coisa para quem consegue separar canalhas e suas malcaratisses do jogo de bola dentro das quatro linhas. Como eu não consigo achei melhor não pensar mais no assunto mas, corinthiano é diferente. Acho que com os corinthianos é o coração quem manda porque, volta e meia, me pego querendo saber o resultado do jogo, desligo o rádio para não ficar nervoso e viro de costas para a TV quando o adversário ataca mas, não passa disso. Eu queria retomar com uma série de posts sobre a viagem hoje mas, enquanto não colocar esta história a limpo não vou sossegar e na quarta começo com as algumas notas da viagem. Bom, volta e meia me entrava o caso Adriano em pleno rio Malleo que é cercado de montanhas rochosas deslumbrantes e eu relembrava minha infância, as visitas que meu tio Rodolfo fazia com uma motona e casaco de couro preto que ele usava, era corintiano roxo. Ele me deu a primeira camisa do Corinthians, destas bem simplinhas, o distintivo nem bordado era mas, quando eu vestia me sentia grande, o maior menino da rua.
Pois é, querendo ou não eu vesti aquela camisetinha até os dias de hoje mas, fiquei imaginando inconformado como eu faria para explicar para uma criança corinthiana, se ela me perguntasse, como o Adriano veio parar no Corinthians. O que eu teria que dizer era o que dirigentes, comentaristas e jornalistas esportivos simplesmente varreram para baixo do tapete. Teria que dizer para o menino que o Adriano quebrou o contrato, era fotografado bêbado na noite pelos paparazzi, chegava atrazado nos treinos. Como explicar para uma criança o que é uma clinica de reabilitação de drogados e alcóolatras. Que o Imperador Romano foi mandado embora de seu clube italiano porque era irresponsável e que aqui ninguém quis ficar com ele, o Corinthians topou porque pensa em jogada de markenting mas, o tiro pode sair pela culatra. O Corinthians pensa na grana, o Corinthians de hoje é malandro, não esta nem um pouco preocupado em formar opinião na futura geração da grande Nação Corinthiana.
Eu já andava cheio de futebol e esta foi a gôta d’água. Resolvi jogar fora a camisa que vesti até hoje. Meu coração corinthiano que me perdoe mas, hoje prefiro dizer que sou palmeirense.
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