Idéias de Comandatuba

aa1Embalagens de cachaça de 300ml de plástico fotografadas assentadas no mangue, embaixo do pontão do restaurante Mangal das Garças em Belém. Educação ou amido de milho?

Os donos dos principais supermercados de São Paulo e o governo do estado reunidos em Comandatuba na semana passada chegaram a uma brilhante idéia. Fazer uma sacola biodegradável de plástico verde feita de amido de milho que se desintegra na natureza em dois meses para substituir as de plástico. Esqueceram de levar em conta que para isto precisa se plantar mais milho, uma comodite que não gera um emprego a mais porque a lavoura e colheita é totalmente mecanizada, como a soja e a cana. Exige toneladas de agrotóxico pulverizado de avião. Além do mais não levaram em conta a pressão sobre a nossa pobre terra que já teve papel mais digno no passado, e das chuvas que estão carreando cada vez mais químicos para os córregos contaminando o nossos já ultra-podre rios, entre outros tantos problemas ambientais.

bb22Em um braço do Igarapé do Educandos em Manaus, a correnteza faz um redemoinho e vai depositando o lixo que vem descendo pela margem esquerda do Rio Negro no meio das palafitas na época da cheia. Educação ou amido de milho?

Os empresários, que vão cobrar R$ 0,19 por sacola, e o governo de São Paulo acham mais fácil produzir uma sacola tendo como matéria prima o milho do que fazer escolas e colocar professores para educar o povo a depositar as atuais sacolinhas de plástico no lugar certo depois de utilizadas. Mesmo que a tal sacola de amido dure uma semana, nas minhas contas,  não é o amido de milho que vai evitar que a sacola vá para o lixo, a menos que sejam comidas pelas crianças como disse na Folha de sábado João Galassi da Associação Paulista de Supermercados, as sacolas continuarão entupindo os bueiros da capital e inundando a cidade com enchentes históricas, ou não?

E na Amazônia então, todas as embalagens plásticas que sobem os rios na direção da fronteira voltam, descendo rio abaixo, boiando, uma quantidade impressionante de todo tipo de PET e plásticos que cobrem a superfície de igarapés, lagos e vem enroscando na vegetação das margens dos rios, passando por Manaus onde a carga foi embarcada e seguindo em direção ao mar.

c22Lixão nas proximidades do Parque Nacional da Serra da Capivara. O vento carrega os sacos plásticos por dezenas de quilometros ao longo da estrada que corta a caatinga virgem. Educação ou amido de milho?

O auê produzido por esta idéia vai ganhar espaço e mídia, alguém vai publicar uma foto de uma criança dando uma mordida em uma sacola de amído de milho, modelos e atores vão desfilar com elas, podem esperar. Agora, se fizer uma conta, na ponta do lápis, o custo ambiental é prejuizo na certa. É altissimo. Mas esta é uma conta chata, adoramos falar da importância da água, mas quando vemos a superfície de uma igarapé amazônico, ou das cabeceiras dos nossos rios Tietê e Pinheiros, que estão aqui dentro de São Paulo, qualhado de lixo plástico e espuma tóxica despejada pelas indústrias ficamos indiferentes. Mas, esta sacola é uma bela idéia de negócio, não é?

2 Comentários

dalila teles veras   em 25 abril, 2011

Brilhante esta sua reflexão sobre um assunto tão premente: a educação ambiental. Chega de “paliativos” com interesses que envolvem apenas “negócios”, com a mídia sempre conivente.
Parabéns pelo belo, oportuno e sempre lúcido blog. dalila

Marise   em 26 abril, 2011

Os jornais dizem que o mercado de embalagens plásticas fabrica anualmente 14 bilhões de sacolas e fatura de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão. Algumas questões:
As indústrias de embalagens vão passar a fabricar só sacolas de milho?
Os mais pobres vão pagar os 20 centavos que serão cobrados por sacola?
Onde as pessoas vão colocar o lixo doméstico que colocavam nas sacolinhas de supermercado? Vão lançar sacos de milho para lixo?
Quanto você quer apostar que as sacolas de milho vão virar um grande negócio “verde” e vai surgir um mercado “paralelo” para o plástico, talvez com a palavra “reciclagem” no meio?
A questão ambiental virou um grande negócio. Propaganda que anestesia, enquanto o relógio do tempo vai corroendo as possibilidades de saída…

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