Xingu, 50 anos

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A cozinha no último acampamento da expedição de contato com os Kranhacãrore era na beira do Peixoto de Azevedo e os índios, todos Xinguanos, comiam nos finais de tarde sentados no alto do barranco assistindo o por do sol que desaparecia mais ou menos no rumo do Xingu. Os pilotos que voavam na região estimavam em 400 quilometros a distância entre o Xingu e o Peixoto, trecho que era percorrido pelos Kaiapó para guerrear com os Kranhacãcore e vice-versa. Foi em uma destas batalhas que uma criança Kranhacãrore foi sequestrada e criada pelos Kaiapó com o nome de Mengrire e ficou com 2,04 metros de altura.

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Hoje os Kranhacãrore não são mais os temidos gigantes. São os Panara, não moram mais no Xingu e, as distâncias de mato entre onde moram hoje,  no Nacypotiri, nas cabeceiras do Iriri e o Xingu não são mais as mesmas. As madeireiras e as estradas avançam cada vez mais. O Xingu é uma ilha verde cercada de pasto e soja que vista de cima é um deserto sem fim.

Em agosto de 2000 estive no Quarup dos Kuicuru convidado pelo meu amigo de expedição, o lider Kuikuro Jacalo. Fotografei varias cenas que mostravam o que eu considerava profundas alterações nos costumes. Publiquei fotos e artigo no jornal Folha de São Paulo e os índios ficaram bravos comigo. Fazer o que? Duas chapas são estas que publico aqui.

Ontem, lembrei do assunto porque a Folha publicou o artigo “Xingu sob pressão” do jornalista Rodrigo Vargas que dá um panorama do clima no Parque no aniversário de 50 anos.

Fiquei imaginando, os 75% da população de jovens cada vez mais distantes dos costumes tradicionais dos velhos. O Parque vive um baita conflito de gerações faz tempo, a moçada não quer mais saber de mato. Não é para estranhar se daqui algum tempo tiver índio criando gado e plantando soja dentro do Parque. Boi eu sei que já tem, soja é só uma questão de tempo.

Um comentário

Ju Andrade   em 8 junho, 2011

dá pra entender essa ansia dos jovens em conhecer o ‘mundo’… assim como é compreensível a vontade de quem vive aqui em SP louco pra viver no mato… a questão é q o xingu vai desaparecer… e com a cidade, o q vai acontecer?!

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