Arquivo / 'Amazônia'

Criados no pé da corredeira

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Os sintomas de desconforto e o medo começam quando um grupo de homens uniformizados chegam em uma comunidade e, sem mais nem menos, com um equipamento montado em um tripé saem fincando estacas para demarcar as quotas onde as águas do lago de uma futura hidrelétrica vão chegar. Logo o caboclo descobre que tudo vai ficar debaixo d’água e não aparece ninguém para dar informação. É sempre assim e não vai ser diferente com a nova hidrelétrica que vai ser construida no Rio Jari que vai alagar a comunidade de castanheiros que esta no Rio Iratapuru, afluente do Rio Jari, no Amapá. Esta cena que mostra tres irmãos pescando bodós com um tarrafa em um braço do rio Iratapuru, que corre em frente da casa onde moram para fazer o caldo do jantar não vai existir mais dentro pouco tempo. Tampouco será levado em consideração para efeitos de indenização, se houver alguma, o modus vivendi do individuo que nasceu e foi criado no pé desta corredeira.

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Tira uma linha

Um meião, a camisa do time preferido, calção, bota de borracha e tenis, tudo muito colorido,  como em qualquer canto do Brasil é o jeito que o caboclo trabalha dentro do mato na Amazônia.

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Moradia dos brasileiros

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Rio Iratapuru-Amapá

a2aO pano enrolado em dois pauzinhos é um coador de café

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Moradia dos brasileiros

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Parintins-AM

Histórias de mato

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O clima na expedição de contato do índios gigantes, os Kranhacãrore, não era dos melhores no final do ano de 1972. Chovia muito, a pista de pouso ficou  interditada e os índios tinham sumido. Os 30 índios xinguanos que formavam a expedição só pensavam nas suas famílias, nas roças deixadas, o cansaço dos dias intermináveis deitados na rede e a comida ruim do acampamento era um tormento. Sem a caça fresca do dia a vida era bem pior, se resumia ao arroz quebradiço e o feijão de segunda cozidos com pouco óleo e farinha. Para dar um ânimo no pessoal  Claudio Villas Boas resolveu deixar que se atirasse uma anta e como estavamos próximo do ano novo imaginei juntamente com meu companheiro Mamprim e autorização do Claudio  um grande churrasco que seria assado em um enorme girau. Não sei onde tirei a idéia mas a anta seria assada em  grandes quartos com couro e tudo, primeiro o couro virado para baixo em contato com a brasa. Claudio colocou uma condição para caçar a anta. Ela deveria ser atirada do outro lado do rio para não assustar os índios com uma carabina calibre 44, a única da expedição que ficava sob a guarda do Claudio. Para a caça do dia-a-dia todos tinham uma carabina 22 e podiam atirar a vontade em macacos, jacus e porcos do mato para ajudar no abastecimento do acampamento. Um grupo de seis índios cruzou o rio e em pouco tempo matou uma anta que não estava em um lugar muito fácil para ser removida. Estava no fundo de uma grota dentro de um um brejo e mais de dez homens foram requisitados para transportar a anta até a canoa e depois até o acampamento.

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O girau do churrasco era portentoso, quatro forquilhas enormes nos cantos davam sustentação a toda a estrutura que era coberta por varas verdes e sobre elas  seis grandes pedaços, as costelas os dianteiros e os trazeiros.

Este jeito de fazer eu devo ter ouvido de algum peão de trecho que me ensinou que o calor deveria passar pelo couro e ir cozinhando a carne aos poucos. Não era de todo mal mas demorou uma eternidade.

Eu não sei, não me lembro exatamente mas deveria ser dia 30 ou 31 de dezembro e depois de horas, com todo mundo trabalhando no girau, virando pedaços, abastecendo a fornalha a cor da carne foi ficando cada vez mais bonita. Claudio  cortou uma lasquinha com sua faca, Bedjai o Txucarramãe tambem, Tamuk o primo já falecido abriu um sorriso e arrancou uma lasca com a mão e começou uma falação, pronto o ataque começou. Comemos sem parar até o anoitecer. No dia seguinte todo mundo passou mal. Todos com diarréia,  não escapou nenhum. Mesmo assim os índios não deixaram o fogo apagar, a anta ficou moqueando lentamente no fogo baixo e na fumaça até a noite do dia seguinte quando o pessoal voltou para comer o que tinha sobrado.

Moradia dos brasileiros

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Pescada amarela

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Muito pouca gente dá o valor que este peixe merece. É um dos melhores que temos e por enquanto vive livre, come e nada por conta própria, vive em cardumes e se alimenta de outros peixes. Habita a costa do norte do país, o mar da Amazônia em volta da Ilha do Marajó. Juntamente com a gurijuba tem uma espécie de bexiga nadatória que vale muito nos mercados orientais, mais de 100 reais o quilo, por isso o alto índice de assalto as embarcações de pesca na região da Ilha do Marajó.

Galeria

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PA – Prova de Autor – Título: Rio Nhamundá – 1995 Ampliação em papel fibra 38.4cm X 26.7cm. Cópia de trabalho para edição do livro Amazônia O Povo da Ãguas. Esta fotografia esta montada e foi exposta no lançamento do livro Martinelli, Pedro e faz parte do catálogo da Compota Edições Limitada.

Preço: R$ 2.000,00

Lago Baependi – Rio Negro AM

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Moradia dos brasileiros

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