“Virgem Maria, acode nóis”

navio

“Quem tem que prestar atenção neste bichão somos nós. Lá de cima ele não vê a gente, passa por cima e nem sente nada” .

Depois dos piratas que atacam as embarcações na região da Ilha do Marajó para roubar grude, a bexiga nadatória da gurijuba e da pescada amarela, o maior medo dos pescadores é dos navios que cruzam aqueles mares, principalmente quando a rede esta sendo retirada. Com parte da rede dentro da água a pequena embarcação a vela fica atada a outra parte que esta dentro do barco, sem nenhuma chance de sair do rumo do navio rapidamente. A apreensão é grande porque a vista não larga mais aquele monstro, desde quando era apenas um ponto preto em cima da linha que dividi o céu do mar.

Com a proa do navio sempre apontada na direção do  pequeno “casquinho” o navio se aproxima rapidamente e a largura de seu casco vai virando  uma parede preta, um imenso fundo infinito que vai ocupando o espaço do céu.

Um deles tirou o chápeu , levou até o peito e disse, “Virgem Maria, acode nóis” e foi para o leme tentar aprumar  a proa para receber o banzeiro que rolava na nossa direção. Topamos com aquela onda imensa e a calmaria voltou.

Um vento de popa colocou o barco rapidamente na costa, abrigado dentro de um igapó para merendar um avuado de sororoca. “Ela sempre acudiu nóis, disse o pescador mais velho, com o chápeu no peito e olhar para o céu.

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