Um papa verde

 


papa

Fotógrafo de Veja ficava na redação o tempo suficiente para pegar uma lente ou deixar os filmes para revelar . “Lugar de fotógrafo é na rua” dizia nosso editor Sergio Sade. 

No meio de uma tarde meu bip tocou dentro de um cinema na Avenida Paulista. Liguei para a redação e a ordem partiu, “venha imediatamente que o papa morreu”. 

Quando entrei no taxi eu já  não me sentia mais em São Paulo. Fui direto da sessão da tarde para o Vaticano. 

Vinte e quatro horas depois eu estava enfiado no meio de mais de 300 fotógrafos do mundo todo disputando uma credencial para cobrir os funerais do papa Paulo VI. Fiquei até a eleição do papa João Paulo I e voltei. 

Um mes depois o correspondente da Veja na europa, Marco Antonio de Rezende, me acordou as oito horas da manhã em um hotel de Londres. “Pedrão, o papa morreu”. Começou outra correria. Sempre com o coração na boca, chegamos na Piazza San Pietro lotada e vimos o corpo do papa sendo carregado pela guarda suiça no meio da multidão, em direção a Basílica. Varamos aquela multidão  inteira em direção a porta. 

Quando faltava menos de meio metro para o corpo entrar na Basílica eu subi, não sei onde e nem como, com uma M3 que estava de férias comigo e disparei para fazer este cromo. O Marco Antonio me disse depois que ouvia gemidos abafados das freirinhas que estavam na primeira fila. 

Despachei o filme para São Paulo na mão de um passageiro e fiquei fazendo contas do tempo de vôo, do desembaraço da bagagem, do trânsito até o filme chegar no laboratório. Depois o tempo de revelacão, a secagem e o encartelamento, que era enfiar os cromos no plástico e a chegada na mesa do editor. 

No dia seguinte recebi um telex dizendo que a foto estava ótima mas não ia sair  “porque o papa estava verde” e,  segundo o editor da matéria, “não existe morto verde. Vai impressionar o leitor”. Argumentei dizendo que o papa estava embalsamado e sugeri que se fizesse uma duplicata corrigindo a cor, mas não teve jeito. A foto não saiu.

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