Todo dia a floresta passa morta

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Um agente do Ibama poderia fiscalizar os certificados de corte e transporte de madeira que passa no centro da cidade de Tomé-Açu, a 200 quilometros de Belém, se ficasse sentado na principal sorveteria da cidade que fica na esquina do bairro das Quatro Bocas em frente a agência do Banco do Brasil. Por ali passam diariamente dezenas de caminhões sem placas e nenhuma outra identificação carregados de toras de madeira. Os moradores da cidade estão desacorçoados, ninguém acredita em mais nada, principalmente na ladainha dos ambientalistas oficiais. Eu já estive lá cinco ou seis vezes nos últimos quinze anos e vi que o fluxo não muda um milímetro apesar da madeira estar cada vez mais longe. Os caminhões viajam o dia todo para chegar na cidade no final do dia.

O custo desta operação de fiscalização seria mínimo se um agente fosse deslocado de Belém para um missão de dois dias, um bate e volta que não mataria ninguém e daria uma bela mão para acabar com a impunidade e tirar o gosto amargo da garganta que os moradores da cidade sentem cada vez que passa um caminhão carregado de madeira. Preço da passagem de ônibus do agente R$ 36,00 sorvete R$ 7,00 o kilo, pernoite R$ 65,00 com café da manhã, um ótimo Yakisoba para duas pessoas R$ 22,00.

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8 Comentários

carlos dória   em 2 fevereiro, 2010

Nossos amigos ambientalistas deviam aproveitar seu levantamento de preços, ir lá, deitarem no meio da rua, chamarem a imprensa internacional – em vez de apostarem só no futuro, na candidatura daquele que, um dia, virará o jogo se deus quiser… Chega de messianismo!

Gustavo   em 2 fevereiro, 2010

Bom dia Pedro,

Excelente denuncia. Mandei o link para o nosso Ministro do Meio Ambiente!

Marise   em 2 fevereiro, 2010

Pedro, a fiscalização é importante, sim. Mas, mais importante que ela é a necessidade de inverter a lógica do sistema econômico: cortar floresta deveria dar prejuízo, não lucro! Onde é que fica a ponta final dessa procissão de caminhões carregados?

Pedro Martinelli   em 2 fevereiro, 2010

Marise, é verdade, mas o povo de lá esta perdendo a esperança quando vê as polícias da cidade, civil e militar, não tomar nenhuma providência.

Pedro Martinelli   em 2 fevereiro, 2010

Professor,
E a nossa imprensa que não anda por conta própria, depende do release oficial de campanha, da condução da Polícia Federal porque tem medo de andar sozinha e não tem ponto de vista porque não estuda o país.

Elder Ferreira   em 3 fevereiro, 2010

As fotografias que aparecem neste post e no seguinte me lembram as cenas que vi no final da década de 1960 e no começo da década de 1970 no norte do Espírito Santo – Linhares, São Mateus e Nova Venécia. Em 10 anos os madeireiros acabaram com a mata existente, só em Linhares existiam quase 200 (duzentas!) serrarias. Depois da devastação eles foram para o sul da Bahia e depois para Rondônia, nem o capoeirão deixavam pois vieram os carvoeiros e deram o tiro de misericórdia na floresta – claro que faziam o reflorestamento…com eucalipto e em Minas Gerais!!! Lamento que na época eu não tivesse uma máquina fotográfica para documentar a morte da floresta pois documentações fotográficas do que aconteceu são raríssimas.
Quem à época escrevesse ou falasse algo contra o que estava acontecendo era logo tachado de retrógrado e não faltava quem dissesse que ele era contra o progresso da região. Hoje o norte do Espírito Santo é assolado pela seca e o Rio Doce – um dos grandes rios do Brasil – pode ser atravessado em vários pontos a pé.
A semelhança é de assustar…

Samuel Marcondes   em 4 fevereiro, 2010

A pergunta é: a quem interessaria fazer essa fiscalização???
Pois, certamente, se “alguem” não levar “algum” por fora nessa história, fica tudo como está… e assim a Amazônia vai se esvaindo.
Uma pena.

Nelson Shiraga Jr.   em 5 fevereiro, 2010

Ótimo post, Pedro. Acabo de conhecer seu blog (o trabalho fotográfico conheço e admiro desde sempre).

Semear e regar – Isto é o que podemos fazer. Talvez por ver mais do mesmo desde que nasceram, os nativos não consigam vislumbrar uma saída. Então um olhar estrangeiro não consegue digerir tamanho absurdo e então faz um levante público, como seu post – Uma semente.

Vou encaminhar para um bom número de fotógrafos do interior de SP e pedir para também divulgarem seu texto.

Grande abraço, obrigado pelas fotos, pela influência positiva e pela luta.

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