Referências visuais

rosquinhas

Rosquinhas da Vó Cida antes de entrar no forno em São José do Rio Pardo

Por tráz de uma foto de decoração em estúdio ou “externa” uma produtora de fotos tem que “bater lata” dentro de uma Kombi muitos dias em São Paulo atrás de objetos para compor cenários, carregando debaixo do braço uma dezena de referências publicadas em revistas, principalmente estrangeiras. As orelhas de post-it marcam as principais matérias, as edições especiais fotografadas na Europa. As referências deveriam servir para discutir a pauta da edição mas, na maioria das vezes são copiadas integralmente.

Nas fotos para revistas de decoração e arquitetura a Kombi lotada de objetos fica de prontidão na frente da casa que está sendo fotografada. Ao lado dela tem a Kombi do fotógrafo com equipamento suficiente para fazer a noite virar dia. O fotógrafo é especialista, deixa a cena aconchegante faz uma bela luz do dia entrar pela janela mesmo que o dia esteja nublado. Manda alinhar todos os pés das cadeiras da mesa de jantar e esconder o fio do abajur. Pede para tirar um quadro que na câmara ficou torto e manda o assistente apagar a luz da cozinha que é florescente. Só falta uma coisa: um toque de presença humana. Imediatamente a produtora vai até a Kombi e volta com um xale, um livro e uns óculos. Ajeita o xale em cima do braço de um sofá, coloca o livro e os óculos em cima e, “pronto, vamos clicar”.

Na sala de jantar “é chic” colocar no canto de uma mesa uma toalha caindo com uma fruteira ao lado. Quem não viu esta foto em alguma revista? Se for casa de campo um cesto de vime com legumes, réstia de cebola e alho pendurados no canto de uma parede. São cenas típicas de cidade cenográfica da novela das oito.

Quando se trata de formatar, construir uma imagem o subconsciente vai buscar o que esta mais a mão, o que faz parte da usura do dia-a-dia e nisso a novela é a nossa referência mais próxima. Até ai tudo bem, é novela. Acontece que o olho enxerga de esgueio, de viés, de canto de olho. A gente acha que não esta vendo, mas esta sim e, quando menos se espera estamos com um livro e um par de óculos na mão querendo fazer um sofá virar gente.

É que sem querer, aos poucos vamos absorvendo instintivamente esta estética de estúdio de televisão que impõe um padrão de gosto linear, construído distante da vida real do país, cheio de estereótipos que não é uma coisa nem outra. É cópia mal feita e atrapalha a leitura do Brasil real.

Um comentário

carlos dória   em 17 novembro, 2009

Pedrão,
se entendi direito é como desaprender a usar leite e açúcar por causa da fixação em leite condensado… é isso?

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