Rediscutindo a relação
Na semana passada houve uma troca frenética de e-mails entre fotógrafos. O assunto/pergunta era até onde vai chegar a manipulação na fotografia. Muita gente boa assinou pontos de vista interessantes. Fotógrafos de todas as áreas, jornalismo, moda e propaganda.
Não sei como começou esta “ola” mas percebe-se que ainda tem gente inconformada, querendo rediscutir a relação.
A vÃtima, pobre coitado, é sempre o Fotoshop. Não sei porque, mas o tom das justificativas para explicar o uso desta ferramenta é de quem ainda não se sente confortável quando a vida pregressa é comparada. Me parece uma relação insegura que precisa de juras de amor eterno todos os dias para continuar o namoro com o mundo digital.
Até outro dia, a manipulacão das fotos era feita no laboratório, expondo mais uma área da foto com um “dodi” ou abrindo uma luz no pincél com ferricianureto. Coisa pouca, ingênua, suportável.Â
No jornal A Gazeta Esportiva se a bola ficasse fora do quadro na foto do gol o laboratorista colocava uma moeda onde a bola deveria estar. Calçava a moeda por baixo com chiclets para dar o desfoque que combinasse com a cena e o gol estava ressucitado. Era a pós-produção da época.
Este era um truque do arco da velha, e o autor ficava envergonhado quando o assunto era comentado no Departamento de Fotografia do jornal.
Outro dia ouvi a seguinte história de um tratador de imagem:”…o sujeito fotografou a modelo em cima de um morro em Campos do Jordão, numa luz terrÃvel. Tirei a modelo e tratei o fundo, todas as sombras, depois coloquei a modelo no lugar. Voce não acredita, ficou uma maravilha”. Falar o que?
O Fotoshop é o máximo. Tanto faz a ferramenta. O que interessa é o compromisso que cada um tem com a sua alma, com seus princÃpios.
As ferramentas a disposição podem, se quizermos, mudar completamente o mundo real que o nosso olho registra com naturalidade e isto tem tirado o sono de muitos fotógrafos.
Acho que mexer muito em foto não dá inferno, mas tambem não garante o céu.
Acontece que ninguém quer pegar um purgatório pela frente.
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