Pagando os pecados (2)

lmaquinas

Este povo da soja teve zero bom senso quando meteu os tratores nas cabeceiras do rio Xingu. Invadiram terras indígenas, derrubaram a mata que protege a beira dos rios impiedosamente. Entupiram sem dó todos os corixos de água pura e cristalina. Fizeram a floresta arder em chamas até o chão ficar coberto de cinzas. Até hoje toneladas de inseticidas são borrifados de avião sem a menor pena, ou preocupação com o meio ambiente e seus habitantes.

E agora, de repente, eles mudaram.  Para lavar a alma da vida pregressa e garantir o lugar no céu fizeram amizade com os inimigos, aqueles que sempre tentaram impedir o crescimento do país, os índios, assentados e  organizações não governamentais. Pobre índio foi usado e abusado desde o descobrimento. “Uma bugrada mal cheirosa que não acompanhou o desenvolvimento da espécie  humana”, é o que eu tenho ouvido nestes quarenta anos de andanças pelo país.

Minha caderneta de anotações íntimas não esqueceu as críticas maldosas dos novos indianistas, antropólogos modernos, sobre relação dos irmãos Villas Boas com os índios. “São paternalistas, abraçam os índios e presenteiam com sabonete.”

Hoje, pobre índio, compra sabonete vendendo semente para reflorestar o seu quintal que foi derrubado contra a vontade e ainda fica devendo favor para os brancos que arrumaram “alternativas de sobrevivência”(veja matéria que saiu na Folha, abaixo) para suas aldeias. Pior, nunca mais receberam abraços como aqueles dos irmãos sertanistas que deram a vida por eles.

“Xingu vivo

Em projeto pioneiro, índios, assentados e fazendeiros se envolvem no reflorestamento da área para garantir a sobrevivência do rio Xingu. Os Ikpeng, do Parque Indígena do Xingu (MT), são o grupo mais produtivo da rede de coleta de sementes montada pela campanha Y Ikatu Xingu. A mais de 300 km dali, no município de Ãgua Boa (MT), 40 famílias do Projeto de Assentamento Jaraguá também coletam sementes para a campanha. As sementes são vendidas para agricultores recuperarem matas ciliares destruídas. A coleta de sementes nativas constitui excelente alternativa de vida, dado seu alto valor. A procura em alta por sementes decorre do sucesso que a técnica de recomposição em desenvolvimento pelo Instituto Socioambiental (ISA) e seus parceiros vem alcançando. Cerca de mil hectares já foram replantados pela campanha em projetos-piloto – FSP, 29/11, Mais!, p.4 a 6.”

7 Comentários

Marise   em 2 dezembro, 2009

Eu gostaria tanto de acreditar que existe mesmo o inferno!

Cristiano   em 2 dezembro, 2009

Marise, se inferno ainda não existe, aqui está sendo criado um… infelizmente.

Marise   em 3 dezembro, 2009

É verdade, Cristiano. Todos os círculos do inferno estão sendo criados nesse mundo onde até os deuses viraram capitalistas…
Possibilidades de salvação podem ser encontradas nos textos tão bons de ler e nas belíssimas (ainda que por vezes trágicas) fotos do Pedro. Abç.

zaclis   em 3 dezembro, 2009

É um retrato impressionante do descaso, da maldade e do egoísmo.

José Hildebrando da Luz   em 4 dezembro, 2009

Prezado Pedro Martinelli;

Eu não entendo porque a mídia brasileira maltrata os agricultores,trata-os como bandidos quando na realidade são heróis deste país. São eles que tornam baixa a inflação, põem alimento na mesa do brasileiro ajudando-o a viver mais.
Vejam os EUA, produzem onde é possível, já o agricultor brasileio é obrigado deixar parte da sua propriedade, para o bem comum, na forma de Reserva Legal. Pobre Brasil!!!
Se você já comeu hoje, agradeça a um agricultor!

Bruno   em 14 dezembro, 2009

Caro José Hildebrando da Luz,

estranho dizer que os meios de comunicação tratam os agricultores como bandidos, quando os principais periódicos do Brasil fazem uma propaganda acrítica das suspostas virtudes do agronegócio. O agronegócio é responsável pela comida de vários nas cidades, pela fome de muitos no campo e pela morte de muitos indígenas, de missionários, da destruição da biodiversidade de nosso ecossistema. Assista aos filmes de Adrain Cowell, assista Corumbiara, sobrevoe a fronteira agrícola e veja o deserto de soja que avança sobre a maior floresta do mundo. Lembre-se das grilagens, dos massacres. E depois volte para nos falar das virtudes da soja, responsável por menos de 1% da alimentação no mundo.

Você já respirou hoje? Agradeça a Reserva Legal.

Rodrigo Garcia   em 1 julho, 2010

“…já o agricultor brasileio é obrigado deixar parte da sua propriedade, para o bem comum, na forma de Reserva Legal.”

Isso foi alguma piada?

Caríssimo José Hildebrando da Luz, espero que antes de estivermos todos usando máscaras e comendo ração você tenha repensado seu ponto de vista.

Abraços.

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