Um pingo de água é a morte

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Meu primeiro banho de rio com câmera fotográfica poderia ter me custado o emprego e ter mudado completamente a minha trajetória profissional. Depois de esperar três anos fotografei o primeiro encontro dos irmãos Villas Boas com os índios gigantes. Na sequência a canoa que eu estava virou com minha Nikon F e os filmes operados. Os índios da expedição recuperam tudo e os filmes foram enviados para o Rio de Janeiro e os laboratoristas do jornal O Globo salvaram a minha pele. A câmera que eu coloquei num tambor com querosene de aviação foi desmontada, limpa e eu voltei a trabalhar com ela por mais dois anos. Eu tinha 20 anos. Como eu prefiro tempo virado à céu azul dá para imaginar quanta chuva tomei com câmera a tiracolo nestes anos todos. Nenhuma câmera me deixou na mão. Agora, chuva nenhuma se compara ao corpo encharcado de suor produzido pela umidade quando se esta dentro da mata na amazônia.

Estou relembrando esta história do contato porque esta semana que passou eu perdi a minha primeira câmera digital legalzinha. É, acho que elas merecem ser tratadas assim, porque são assim mesmo, bacaninhas, juniors, descartáveis, nada confiáveis. Partem com a mesma volatilidade com que chegam. Não é mais um objeto de respeito, de admiração que o fotógrafo dividia os amores e os ódios.

Comprei uma Canon G9 achando que ela poderia aguentar o tranco de minha mochila urbana e a pressão de quem manuseia câmera como ferramenta de trabalho. Que nada, aguentou um ano e meio e ficou louca. Segundo a oficina autorizada esta morta por “entrada de líquido no seu interior”. Em casa coloquei a bateria e tudo funcionou, todas as funções. Não faço outra coisa a não ser ligar e desligar para ver se esta viva. Pior, esta vivissíma!

Como eu estava acostumado com a camerinha sai da oficina e fui direto para a loja comprar outra, agora é G11, também muito legalzinha, mais umas coisinhas novas, é realmente uma bela maquininha, parece fortinha mas, não posso esquecer o que me disse Jorge Namba, da oficina Canon, “ela tem todos os circuítos integrados, um pingo de água acaba com tudo”. A partir de hoje vou ter que colocar na mochila, como segundo corpo, uma ‘M’ com um filme e deixar lá de prontidão. Que tristeza estas câmeras digitais, uma M6 virando “back-up” de uma droga que se acaba com um pingo de água. Onde já se viu isso, onde fomos parar?

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