Comida de índio

pizzas-de-tapioca

Lá em cima, no alto à esquerda, o mapa do Brasil faz contornos parecidos com a cabeça de um cachorro. Esta região é habitada por nações indígenas com conhecimento culinário que a maioria dos brasileiros desconhecem.

Nestes dias modernos o tema alimentação expande fronteiras e a tecnologia encurtou caminhos mas, entre nós e os índios o abismo continua cada vez mais profundo. Ali, tem ouro em pó, muita coisa para ser descoberta e aprendida mas ficamos patinando, seguindo modernidades e referências importadas, imitando invencionices, sem personalidade. Quando vamos até eles a troca não é recíproca. Quase sempre voltamos com um punhado de pimentas nativas que servirão para dar um toque exótico em cardápios estrelados e mais nada.

Cada vez mais embarcamos no mundo orgânico. Temos o maior jardim de floresta nativa do planeta mas na região dos rios Uaupés, Tiquié e Içana, só para ficar nos mais importantes do alto rio Negro, eu nunca encontrei um técnico, engenheiro de alimentos ou nutricionista pesquisando na região, aprendendo, trocando conhecimento com os índios.

Dez anos atrás eu vi um carregamento de merenda escolar enviado pela Universidade Solidária da dona Ruth Cardoso chegar na prefeitura de São Gabriel da Cachoeira. Eram caixas de salsicha em lata, leite Ninho, macarrão e biscoitos que seriam servidos como merenda para as crianças indígenas. A intensão era boa mas as crianças sofriam com problemas intestinais e de pele.

Aqui na civilização aprendemos fazer espuma de cachaça e cozinhar ovo a 49 graus mas ainda não conseguimos fazer um “musli”, um cereal regional com produtos locais que não dê dor de barriga na criançada que mora no mato.

Estes beijus de tapioca que estão secando em um girau na beira do rio Içana, como mostra a foto acima, são uma aula de sustentabilidade, um exemplo de alimento orgânico, de técnica e de requinte da culinária brasileira. Mas isto é comida de índio não de brasileiros.

Um comentário

carlos dória   em 7 outubro, 2009

Maravilha, hem profesore? O rio parece querer lamber o beiju. Só por isso faz a curva…

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