A multiplicação dos pães

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Onze fotografias são repetidas 67 vezes para compor a ilustração desta primeira página do caderno Paladar do Estadão. A única fatia de pão diferente é a que parece ser uma bruschetta de tomate, é a sétima da segunda fileira a partir da esquerda.

A chuva forte de ontem cortou a luz de minha casa e a capa do caderno em cima da mesa iluminada por uma lanterna me fez lembrar dos tempos do paste-up. Prancheta, estilete, tesoura e cola de benzina, era tudo muito simples mas eu não lembro de ter visto um diretor de arte repetir em uma mesma página 13 vezes uma mesma fotografia. Fiquei parado em pé, neste mesmo angulo em que fiz esta foto me perguntando se estava justo ter pago os R$ 70,90 pela assinatura do jornal no mês passado. Me perguntei, sempre olhando para o jornal, se aquilo podia se chamar de criação, se as câmeras digitais com dezenas de megas e os Mac do Departamento de Arte do jornal foram criados para este fim. É pra isso que serve o Fotoshop, copiar e colar, mas isto nós já faziamos com cola de benzina a trinta anos atrás. A capa, ali iluminada por uma lanterna de luz fria, como um morto, me veio a questão do futuro do jornalismo, que desânimo, como sobreviver se vivem atirando no próprio pé.

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