A eleição do papa e a praça azul

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123aaa Depois que o papa João Paulo II apareceu na janela central da Catedral de San Pietro a multidão de fotógrafos que estava dentro de um “chiqueirinho” montado pelo Vaticano no centro da praça abandonou o local rapidamente para transmitir as fotos para sua agencias. Fiquei só no meio de centenas de caixinhas amarelas da Kodak de filme daylight. Eu tinha fotografado tudo com filme tungstênio. Senti um frio na espinha.

Enquanto o Exército Italiano fazia pontaria desde uma colina fora do Vaticano com um canhão de bateria anti-aérea para acertar o facho de luz na janela onde o papa apareceria depois de eleito eu tive tempo para analisar aquela luz que ao vivo não me parecia tão azul. Burrice, carvão, só podia ser azul, pensei depois mas, já era tarde. Se fosse em um teatro ou show eu iria perguntar para o iluminador, ver o canhão e estava resolvida a questão. Antes, a primeira coisa que disse para mim mesmo quando vi todas aquelas caixas no chão foi, estes caras estão loucos. Não sei como explicar o desânimo e o medo mas a partir do momento que eu decidi pelo EPT eu só pensei nas fotos, esqueci o filme.

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No dia seguinte no avião de Roma para Varsóvia contei para um fotógrafo italiano que eu tinha usado filme tungstênio e ele me fez uma cara de drama seguido de um discurso técnico de temperatura de cor que tinha cara de quem estava justificando alguma coisa.

Eu errei feio e o azul entrou totalmente quando apontei a câmera para fazer a foto geral da praça mas, em compensação a leitura da luz do interior do Vaticano estava certa, era toda de lâmpadas tungstênio, vindas daqueles lustres enormes. Como a roupa da aparição do papa era uma bata simples, branca, a luz azul que chegava era muito próxima do branco e acabou ficando elas por elas. Um pouco melhor porque eu tinha o filme certo para a luz que vinha do interior do Vaticano.

A foto do papa ainda cardeal dentro do carro foi feita em uma daquelas portas enormes de bronze. No final das reuniões de conclave eu ficava ali, pedindo que que os carros parassem para eu fazer uma foto. Nunca nenhum parou. Um belo dia um cardeal pediu que o motorista parasse, corri e fiz a foto do que estava na janela. Junto com meus filmes eu mandava o jornal do Vaticano L’Osservatore Romano que trazia uma foto de cada cardeal para que na redação as fotos fossem identificadas. Uma semana depois o cardeal Karol Wojtyla era o papa.

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