Futebol, só na intermediária

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“Vencemos os exelentes ingleses. Foi uma grande vitória. Agora só falta vencer os nossos pequenos erros.”

Esta é a legenda miúda que vem logo abaixo do título desta bela primeira página do Jornal da Tarde. No pé da foto o crédito: Fotos de Rolando de Freitas e mais nada.

A sequência foi feita com uma lente Nikon 500mm 1.1.8 espelhada. Uma novidade na época. Era uma lente para iniciados com boa mão na afinação de foco justo.

Como sair da mesmice, surpreender o leitor.

O jornal escalava um fotógrafo que corria por fora, sem o compromisso de cobrir o jogo. Ficava solto, garimpando alguma chapa diferente.

Rolando era um dos meus fotógrafos referência e eu já tinha visto ele vadiando em volta do campo algumas vezes, de costas para o jogo, caçando alguma ilustração que mostrasse com emoção os noventa minutos da partida.

Imagino que estas fotos já tinham sido sonhadas por ele, só faltava encontrar o personagem certo.

O tratamento dado ao futebol nos dias de hoje nos jornais é absolutamente previsível e burocrático. A foto do jogo publicada, pelo menos é o que eu tenho visto, é sempre uma imagem fechada de um punhado de jogadores no ar com fundo desfocado.

Muitas vezes o fotógrafo, antes de sentar atrás do gol já sabe que terá que fazer uma foto vertical, ou horizontal,  o espaço que foi deixado pelo diagramador. Com o texto é a mesma coisa. O repórter sabe exatamente quantos toques tem que batucar antes de ir para o campo.

Não é de hoje que a gráfica e seus custos pressionam a redação para “fechar” cada vez mais cedo. Antes era para chegar primeiro que o concorrente nas bancas. Muito justo e saudável.

Nos jogos a noite o motorista do jornal ficava encostado no alambrado do Pacaembu, em lugar previamente combinado com o fotógrafo, para receber os filmes dos primeiros quinze minutos de jogo porque a foto tinha hora marcada para “baixar” na gráfica.

No jornal O Globo, sucursal de São Paulo, o filme era trazido para a redação que ficava na Av. Consolação para ser revelado e em seguida uma cópia preto e branco 18X24cm era transmitida por telefone, via telefoto, para o Rio de Janeiro. Aos domingos, se o jogo fosse importante, com equipes do Rio, os filmes saiam com trinta minutos e o motorista ia direto para Congonhas despachar na Ponte Aérea. 

O mundo digital imprimiu uma velocidade brutal na fotografia. Hoje a foto pode ser enviada de dentro do campo, com isso o tempo de bola rolando poderia ser maior, mas não, ficou mais curto ainda para os fotógrafos.

Pensando bem não sei se adiantaria muita coisa ter mais tempo. A lentes grandes e as câmeras auto-focus são mesmo uma mão na roda para os jornais que querem chegar nas bancas cada vez mais cedo, as vezes até um dia antes. E o futebol?

Bom, o futebol então nem se fala. A bola não sai do meio de campo, fica mais da metade do tempo de jogo circulando na intermediária, sendo tocada de pé em pé para desespero dos editores e fotógrafos que, cada vez mais assistem os melhores lances pela televisão, que cumpre o seu papel, é didática e coloca a tecnologia a serviço do telespectador.

ps. acabou de sair o gol de empate do Robinho no jogo contra o Paraguai no Recife. Vou ver se vejo o gol estampado nos jornais de amanhã. 

 

 

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