“Há um tesouro à sua espera. Aproveite. Fature. Enriqueça com o Brasil”

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Apresentação do livro Gente X Mato

No final de 1970, o governo militar do Brasil lançou sua campanha nacional para a ocupação da Amazônia. Veja o anúncio à esquerda, publicado na revista Veja no dia 30 de dezembro desse ano.

Chega de lendas. Vamos faturar – que slogan chocante para nossas consciências já experientes em desastres e bafejadas pelo sopro morno do aquecimento global.

Alguns meses antes da publicação desse anúncio, os militares haviam iniciado a construção das primeiras grandes estradas que iriam integrar o distante norte do Brasil: a Transamazônica, a Cuiabá-Santarém e a Manaus-Boa Vista.

Foi também em 1970 que Pedro Martinelli, então com 20 anos, fez sua primeira viagem à região, para registrar o contato com os índios Panará, antes que uma dessas estradas os alcançasse (e os destruísse) primeiro.

Desde então, o fotógrafo não parou de percorrer e documentar a vida da maior floresta do mundo, cujas bordas e miolo vamos roendo pouco a pouco.

Hoje, cerca de 17% da floresta amazônica já foi destruída.

Você acha pouco?  Você acha que ainda tem muito mato por lá?

É que a Amazônia é grande, sim, senhor.

E, ao contrário das outras geografias legendárias do planeta, ela chegou ao século 21 com sua aura mítica quase intacta.

É fácil entender por quê. Basta passar dias seguidos navegando pela vastidão de suas águas, ou sobrevoar, num avião pequeno, o tapete verde de suas árvores, por horas a fio, avistando aqui e ali a sinuosidade prateada de um rio perdido, e imaginar que em algum ponto lá embaixo ainda vivem tribos indígenas isoladas e a salvo de nós.

O escritor Mário de Andrade disse uma vez que na Amazônia tudo é grandeza que não se pode ver. Que sua enormidade só podia ser enxergada num mapa. É verdade. A gente nunca vê completamente o gigante. Mas é capaz de vislumbrar sua presença fabulosa, de pressentir sua beleza bruta. A Amazônia é única. É uma das maravilhas da Terra.

Em 1970, bradaram os quartéis: “Bah! abaixo os curupiras macunaímas botos cobras noratos! Madeira manganês bauxita boi ferro soja já!â€

Muitos brasileiros acudiram ao convite. Pegaram a estrada rumo norte. E a máquina do vamos faturar foi posta a girar.

Ela ainda está girando. Sabemos que, entra ano, sai ano, o desmatamento não cede, enquanto nós o vamos medindo em x campos de futebol.

Durante a década de 70, quando ainda criança, visitei o Parque Nacional de Sete Quedas, no rio Paraná.  Que beleza era aquilo: uma coleção de cachoeiras e corredeiras cujas águas rodopiavam entre gargantas estreitas, atravessadas por pontes pênseis em que a gente se equilibrava com o coração disparado de medo e deslumbramento.

Naquela época, quem podia imaginar que, poucos anos mais tarde, em 1982, Sete Quedas seria sumariamente submersa pelas águas do reservatório da usina de Itaipu, outro projeto do desenvolvimentismo brasileiro?

Qual seria nossa escolha hoje?

Você trocaria energia barata e abundante pelo parque nacional e as cataratas?

Toparia participar de um racionamento para preservá-los?

Será que a Amazônia também vai desaparecer?

Será que não nos daremos o tempo necessário para achar os meios de conviver com a floresta?

Nem nos permitiremos a criatividade para arquitetar, à beira de nossos largos e abençoados rios, as fantásticas urbes florestais que o mundo inteiro gostaria de vir visitar e admirar?

A floresta que os europeus encontraram ao chegar à América do Sul não era uma floresta virgem. Era um ambiente manejado por uma presença humana: os índios.

Os índios souberam estabelecer uma relação mutuamente fecunda com a Amazônia por milênios. O que aprendemos com eles?

Na Amazônia, o mito, ainda cabem vários sonhos e projetos de futuro.

Mas e na Amazônia real? Ainda cabe o quê?

Esse livro é um convite:

Visite a Amazônia. E já.

MARCELO MACCA

Um comentário

Há um tesouro à sua espera. Aproveite. Fature. Enriqueça com o Brasil : Blog dos Alunos da Metô   em 23 março, 2009

[…] destruindo a Amazônia since 1500. Excelente foto (texto idem) do post de Pedro Martinelli em seu […]

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