Beijus e tapiocas


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Em agôsto do ano passado publiquei aqui uma sequência de 16 fotos de uma índia Panara fazendo uma “receita de batata assada na pedra passo a passo” na aldeia do rio Iriri. Nas minhas viagens pela amazônia a conversa começa pela cozinha e as pautas quase sempre tem a ver com alimentação, com a sobrevivência naquele mundo que já foi chamado de “inferno verde”. Em primeiro lugar porque nas minhas contas, a melhor parte da fotografia começa sentado em um banquinho ouvindo histórias de gente que tenho profunda admiração que são os caboclos que estão dentro do mato, com pouco contato com a civilização. A base da alimentação é a mandioca, uma infinidade de variações que muda de acordo com cada região. E os utensílios? Peças únicas que ainda não foram reconhecidas. Será que o Brasil sabe de tudo isto aqui? Esta é a pergunta que eu mais me fiz estes anos todos. Agora, venho afinando a edição de minhas fotos, fechando o cerco, apertando cada vez mais o tipiti. Com o tempo o olhar muda. Fotos amadas perderam o porta-retratos e outras que a lupa nunca parou para ver direito agora ficam dando voltas na cadeira, de aflição com a descoberta. As únicas fotografias que sobrevivem sempre a qualquer edição são as que eu apontei a objetiva para as mãos dos caboclos ou índios traballhando  na lida da mandioca. São fotos didáticas que revelam o conhecimento tradicional cada vez mais raro nos dias de hoje e os fundamentos de uma cozinha que nós insistimos em atropelar diariamente.


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Um comentário

carlos dória   em 8 fevereiro, 2010

Pedro,

essa frase é muito correta: “as únicas fotografias que sobrevivem sempre a qualquer edição são as que eu apontei a objetiva para as mãos”. O que conta é o processo de trabalho, a transformação do mundo; o resto, é ilação de quem vê, o que muda com o tempo – como você constata em si próprio.
Abração
Dória

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