As contas da Amazônia

caravan

Quando a visibilidade é boa em qualquer vôo sobre a Amazônia meu nariz fica colado na janela do avião e inevitavelmente uma máquina de calcular imaginária faz contas sem parar. Faço todo tipo de conta. Contas de ocupação com casas e vilas, do emaranhado de ramais que ligam fazendas, sítios, derrubadas e cabeças de gado. Com o tempo se aprende a distinguir desde sete mil pés de altura a diferença entre uma roça de banana e mandioca. Colunas de fumaça sobem nas alturas se confundindo com as nuvens.

Não precisa entender de mato, de Amazônia, mas esta é a hora que a informação recebida na “civilização” entra em contradição com o que se esta vendo lá de cima do avião. Até quem nunca viu uma lavoura vai sentir um frio na espinha quando ver uma plantação de soja encostar na beira de um rio virgem, de águas cristalinas. Se fixar o olho para baixo, 90 graus,  vai ver pequenas manchas de terra vermelha. São picadas de madeireiros. Eles trabalham em baixo da mata como formigas.  O satélite não tem a menor idéia do que esta sob as copas das árvores.  Uma hora de vôo é suficiente para baixar um desânimo danado, fica-se com uma sensação de impotência enorme. Pior, descobre-se que é tudo história para boi dormir a ladainha decorada dos especialistas em discurso sobre manejo sustentável.

Avião no chão e o cheiro de mato virgem úmido traz um suspiro de conforto e felicidade. Em seguida o subconciente, que não perdoa, faz a pergunta inevitável: até quando este rio vai correr em paz povoado de tucunarés, trairões, bicudas e piraras? Sera que vai ter mato para andar piando macuco?

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