A Amazônia não é a floresta, a Amazônia é o homem

 

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Menina com uma irapuca que a mãe mandou pegar no curral para o almoço.Lago Baependi-Rio Negro/AM

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Um pescador de peixinhos ornamentais furou o casco do tracajá e fez “um carrinho” para o filho que “nunca põe o pé em terra firme”. Lago do Capeta-Rio Solimões/AM

Até pouco tempo atrás existia um abismo que separava a informação entre nós, daqui do sul, e o povo do norte, ou  o”nortão” como costuma se autodenominar o morador que vive na última mancha verde, quase intocada, no rumo das cabeceiras dos rios Solimões, Negro, Purus, Madeira e Amazonas . 

Com uma pequena placa de energia solar, antena apontada para o satélite e uma bateria de carro o caboclo recebe o Jornal Nacional e a novela das oito esteja onde estiver. Informação em tempo real. 

Maravilha. O caboclo está adorando. Se sente no paraíso quando vê o noticiário sobre a violência urbana, fica impressionado com o trânsito, com a quantidade de edifícios, acha que a civilização está aqui e que nós flanamos o dia todo de um cômodo para o outro como os personagens das novelas. 

Não, ele sabe separar o mundo lúdico do real e dar os devidos descontos como se estivesse assistindo a encenação de seu boi preferido na arena de Parintins. 

Nós aqui é que estamos marcando passo. O satélite fotografa a Amazônia, nós nos debruçamos sobre as fotos e não conseguimos sensibilizar ninguém sobre a necessidade de se manter o mato em pé. Pior ainda, não descobrimos que a Amazônia não é a floresta, a Amazônia é o homem. 

Nossas crianças aprendem sobre a fauna e  flora como se todos os bichos estivessem num zoológico distante como a Disney. Falamos sobre os índios, nosso clichê exótico favorito, mas não é legal dizer que as crianças foram criadas comendo tartaruga e veadinhos. Que as araras são flechadas na asa para não morrer e virar uma fornecedora de penas para fazer cocás magníficos que a gente fotografa sem cansar. 

É uma pena porque são belas histórias, verdadeiras, que ajudariam muito a entender melhor aquele mundo pouco compreendido.  Se as crianças deste lado do país soubessem que indiozinhos e caboclinhos não tem padaria, supermercado ou açougue  para comprar seus alimentos estariamos garantindo, pelo menos, encontros e conversas sem discriminação no futuro.

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